Vivi neste final de semana uma experiência que, confesso,
desejava, mas não alimentava a expectativa de vê-la realizada.
Já são quase trinta anos de caminhada – a se completarem em
junho próximo – e eu sentia algo como um princípio de desânimo, apesar das
muitas vitórias de Cristo que presenciei durante o transcurso dessa
peregrinação.
Tivemos a convivência de Início de Curso 2015 com as
comunidades que nossa equipe conduz – três da Transfiguração do Senhor e duas
de Nossa Senhora das Graças, ambas em Ananindeua. Conosco estavam duas de Santa
Rita de Cassia e duas de Nossa Senhora do Guadalupe, também de Ananindeua,
conduzidas pela equipe que tem à frente Josimar e Luzia. E ainda uma comunidade
– não recordo qual – de Cristo Rei, Castanhal, levadas à frente pela equipe do
Carlos Leal e Aldenora.
Ao todo eram dez comunidades de cinco paróquias, que, somados
os catequistas e algumas babás, ultrapassavam 150 pessoas, mais do que o limite
previsto para a Casa, em torno de 130 a 140 almas. E mais da metade – arrisco
estimar em ¾ do total – jovens. Havia quartos que tiveram sua capacidade
excedida, colchões pelo chão. Humanamente, tudo contribuía para um caos.
Até nosso catequista se mostrou preocupado e, embora confiante,
buscava notícias sobre o evento, que se encerraria no domingo do dia das mães,
outro elemento que poderia conturbar a convivência.
Mas aí se deu o primeiro dos milagres que presenciei. Não houve
qualquer tumulto. Lembro de apenas uma reclamação, a de uma mãe que desejava
mais conforto para seu filho, ainda que este nada manifestasse. Coisas de
mãe...
No sábado, que se desenhava bastante assoberbado – Laudes,
perscrutação, Penitencial, questionário... –, meu coração permanecia
sobressaltado, como à espera de um desastre. Para verem como sou pessimista...
Durante a penitencial nem me lembro de quantos padres havia ao
certo, pois ficou gravada a experiência compartilhada pelo padre Vicente,
lusitano que nem o meu primeiro catequista, padre João Marcos, hoje bispo na terrinha
(e conhecido de padre Vicente). Alguém que viveu um tempo de crise que quase o
fez desistir da vocação e que reencontrou o ardor ao trabalhar com jovens
egressos das drogas num centro de reabilitação. Precisou cruzar o Atlântico
para recuperar a fé...
Uma declaração corajosa e entusiasmante, que quase nos fez
perder o desejo de almoçar, após o pequeno jejum daquela manhã.
Após o “desjejum festivo” e um pequeno intervalo a assembleia
foi dividida em grupos para responder a um questionário com perguntas sobre a
orientação do magistério da Igreja colocado em prática na vida cotidiana. Não
era exatamente esse o título dado, mas, em resumo, era esse o assunto.
Na hora de colocarmos em comum as respostas do questionário, eu,
na minha incredulidade, via aí o segundo estrangulamento da convivência, sendo
que o primeiro, na noite anterior, já não ocorrera.
Foram dezoito grupos mesclando jovens, casados, viúvos,
respondendo a uma dezena de perguntas que desnudavam não somente o
conhecimento, mas, sobretudo a vivência da orientação recebida da Igreja
enquanto instituição.
Numa sala ampla e refrigerada – temperatura média de 18 graus –,
já pela manhã acontecera de muitos se agitarem para fugir do frio, deixando
seus lugares ou mesmo saindo, ignorando o momento, quer fosse uma pregação, uma
leitura ou um canto. Aproximava-se a noite e a temperatura exterior também
caía...
Aí se deu o segundo milagre. Durante mais de uma hora,
sucedendo-se respostas dadas pelos secretários, nenhum dos jovens deixou a
sala. Escutavam atentos ao que era dito nas respostas ou eventuais intervenções
dos catequistas.
Isso nos deixou assombrados – no bom sentido, claro! Mas havia
ainda surpresas reservadas para aquele dia...
Após o jantar, quase nove da noite, voltamos a nos reunir para
escutar uma catequese sobre o magistério da Igreja, procurando iluminar nossa
conduta, enquanto desejosos de sermos verdadeiros cristãos. A rigor, um tempo
árduo, pois, ainda que o tema possa ser interessante, há um combate terrível
contra o cansaço, o sono e o frio do ambiente – a temperatura continuava em 18
graus.
Era a hora de ocorrer o terceiro milagre: uma assembleia atenta
permaneceu na sala por quase duas horas, como que bebendo do que a Igreja
trazia para alento do espírito e encorajamento dos ânimos de todos nós.
Nas convivências, no sábado à noite, encerrados os trabalhos do
dia, é costume as pessoas se reunirem – geralmente os mais jovens, embora
também alguns adultos – para “esticarem” um pouco em rodas de conversas,
cantorias, danças... Quando são muitos os jovens, não raro ocorre de haver
excessos: vozes e cantos que incomodam a quem busca o repouso, o que sempre
gera alguma confusão...
Hora, então, de mais um milagre: nada disso aconteceu. Ficaram
reunidos até mais de uma hora da manhã e nenhum exagero. E havia entre eles
alguns dos que se costuma chamar de “bagunceiros”. Coisas do Espírito Santo...
Não bastasse tudo isso, no domingo houve a celebração da
Eucaristia. A previsão era de que fosse presidida pelo padre Edmundo, que já
estivera no sábado, para a penitencial. A surpresa veio por conta da impossibilidade
de vir à convivência por causa de outra tarefa recebida para o mesmo horário.
Procuramos por um presbítero e parecia que ou ficaríamos sem
Eucaristia, ou a celebraríamos quase ao meio-dia, quando seria possível chegar
o padre Edmundo.
E aí, para selar a convivência, como um “plano B”, eis que vem o
padre Vicente, aquele mesmo que vivera a experiência do resgate de jovens, que
nos brindou com uma bela homilia, dessas que dá raiva na gente ter deixado de
gravar para escutar outra vez mais tarde.
Selando os milagres desse final de semana, a notícia do
pagamento – integral e com sobras – da convivência, apesar das dificuldades que
muitos alegaram com antecedência, inclusive usando o argumento de não terem
dinheiro para os gastos. Definitivamente, Deus queria que essa convivência
acontecesse!
Retornei para casa cansado, é verdade, mas agradecido a Deus
pela oportunidade que me concedera de presenciar os milagres que enumerei. Uma
convivência de Início de Curso que guardarei com carinho entre as várias
lembranças de passagens fortes do Senhor, fazendo prodígios com seu braço
forte.
Apesar da minha incredulidade, não tenho como não reconhecer o
que diz o salmista quando afirma que “o braço de Iahweh não secou”, o seu poder
permanece e, se é assim, certamente haverá de completar a obra que começou
comigo.